O fumo produzido nos incêndios florestais contém inúmeras substâncias químicas e partículas com potencial lesivo para a saúde humana, quer das populações expostas, quer, sobretudo, dos bombeiros mais directa e proximamente envolvidos no seu combate.
Destaca-se a matéria particulada (PM), dióxido de carbono (C02), monóxido de carbono (CO), metano (CH4), compostos orgânicos voláteis (COV), óxidos de azoto (NOx), óxido nitroso (N20) e amoníaco (NH3).
Neste contexto, o projecto FUMEXP (FCOMP-01-0124-FEDER-007023) tem como principais objectivos conhecer melhor os potenciais efeitos das emissões dos incêndios florestais na saúde dos bombeiros, tendo para tal o apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).
O projecto teve início a 1 de Janeiro de 2008 e terá a duração de três anos contando com a participação de diferentes instituições, nomeadamente do Departamento de Ambiente e Ordenamento da Universidade de Aveiro, (equipa coordenadora), da Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial (ADAI) da Universidade de Coimbra e do Centro de Pneumologia da Universidade de Coimbra.
Conta, também, obviamente com a imprescindível colaboração de quatro corporações: Associação dos Bombeiros Voluntários de Albergaria-a-Velha; Bombeiros Voluntários de Castanheira de Pêra; Bombeiros Municipais da Lousã e Bombeiros Sapadores de Coimbra.
Estudo em ambiente real
O projecto FUMEXP apresenta uma forte componente de trabalho de investigação em ambiente real, com acompanhamento de um conjunto de bombeiros das várias corporações, quer durante a realização de fogos experimentais na Serra da Lousã, quer durante o combate aos incêndios florestais ocorridos em 2008, 2009 e 2010.
Para a avaliação do efeito do fumo sobre a saúde dos bombeiros, tem sido efectuada a monitorização individual de COV, N02, CH4, CO e partículas com diâmetro equivalente inferior a 2,5 µm (PM2.5). O posicionamento dos bombeiros é registado através da utilização dum sistema GPS.
Com os dados já obtidos, quer nos incêndios experimentais (realizados na Primavera sob condições de segurança), quer nos incêndios reais, é já possível fazer algumas comparações face aos valores de referência definidos pela legislação e pelas recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Relativamente ao monóxido de carbono, verifica-se que os bombeiros são regularmente expostos a valores que ultrapassam o valor recomendado pela OMS de 30 000 µg m-3 para médias horárias. Os valores de exposição a NO2 e a matéria particulada PM2.5 são, também, muito elevados, excedendo os valores recomendados pela UE. Quanto aos compostos orgânicos voláteis (COV), é possível inferir valores de concentração elevados.
Os bombeiros envolvidos neste projecto foram identicamente avaliados quanto aos valores de monóxido de carbono e óxido nítrico no seu ar exalado, antes e após a exposição verificada nos incêndios florestais experimentais e reais.
Conclusões preliminares
Verificou-se uma elevação estatisticamente significativa ao nível do monóxido de carbono e uma descida significativa nos valores de óxido nítrico. Foi a primeira vez que este parâmetro foi testado em bombeiros nestas condições e os resultados obtidos são similares ao observável em fumadores, após a exposição ao fumo do tabaco. Este fenómeno ocorre por provável perturbação da sintetase do óxido nítrico a nível da mucosa brônquica.
Estão ainda e pela primeira vez, a ser determinadas as alterações em vários parâmetros fisiológicos no condensado respiratório destes bombeiros. Estes valores serão oportunamente divulgados nos próximos meses.
Todos os dados obtidos pelas várias equipas de investigação envolvidas no Projecto FUMEXP têm vindo a permitir uma mais fidedigna avaliação das reais condições e riscos em que trabalham os nossos bombeiros.
No final do projecto prevê-se a divulgação alargada junto das corporações de bombeiros e das autoridades nacionais de um conjunto de estratégias e medidas de mitigação dos potenciais efeitos do fumo na saúde dos bombeiros, bem como a emissão de recomendações no que toca à escolha e aquisição de adequado e eficaz equipamento de protecção das vias respiratórias durante as operações de combate a incêndios.
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