Foto: Marques Valentim |
Os Voluntários das Caldas da Rainha apostaram forte na formação dos mais jovens para contarem com mais bombeiros no futuro. As escolas de infantes, cadetes e aspirantes contam com meia centena de jovens e há 30 bombeiros prontos envolvidos nestas formações. Estes querem “jovens mais preparados e capazes”, mas criticam os incentivos para os bombeiros.
O comando dos Bombeiros Voluntários das Caldas da Rainha tomou posse há perto de um ano e uma das prioridades que traçou foi a dinamização do corpo de bombeiros, apostando nos jovens.
“O corpo de bombeiros, que já teve muitos mais bombeiros de que tem neste momento, tinha de ter uma dinâmica nova. Uma dinâmica de formação.
Não fazia sentido que este corpo de bombeiros, que serve uma cidade com 60 mil habitantes, fizesse um juramento de bandeira com cinco ou seis elementos em cada ano”, afirma o comandante José António Silva.
Querendo fazer crescer o efectivo, o comando de Caldas da Rainha apostou fortemente nos mais jovens. Com escolas de infantes (dos 6 aos 15 anos), cadetes (16 e 17 anos) e estagiários (a partir dos 18 anos) desde Março, meia centena de jovens estão em formação.
No entanto, o comandante José António Silva não quer apenas que ali se formem bombeiros, quer mais do que isso: “Estas escolas de infantes e cadetes não são vocacionadas exclusivamente para a formação do bombeiro; são vocacionadas exclusivamente para a formação dos jovens. Para além de os colocarmos a fazer algumas coisas que os bombeiros fazem, mas de forma mais aligeirada, fazemos um acompanhamento muito directo da vida do jovem no seu dia-a-dia escolar e apoiamo-los ao nível do currículo escolar”.
Reviravolta nos bombeiros
“Não queremos só criar bombeiros, queremos também criar homens com formação”, afirma o 2.º comandante, Carlos Pacheco, responsável pela área de formação dos Voluntários das Caldas da Rainha.
A vinda dos jovens foi “bem aceite” pelos bombeiros e uma “lufada de ar fresco”, conta o 2.º comandante, explicando que “começámos com 12 jovens no primeiro fim-de-semana; no seguindo já eram o dobro e o número tem vindo a crescer. É gratificante e engraçado ver os pequeninos já com técnicas que nós aprendemos na escola para bombeiros de 3.ª. É muito bom e uma reviravolta grande na maneira de estar aqui, nos bombeiros”. Ainda segundo Carlos Pacheco, “o nosso objectivo é ir buscá-los mais cedo, e desde pequenos encaminhá-los para a vida dos bombeiros”.
A ideia da aposta nos mais jovens surgiu após a realização dos Concursos Nacionais de Manobras organizados pela Liga dos Bombeiros Portugueses naquela cidade, em Junho de 2009. “As manobras são umas das matérias do plano que estão a cumprir. A partir de Janeiro, já começam a treinar. Vamos concorrer de novo no Concurso Nacional de Manobras”, afirma o 2.º comandante, Carlos Pacheco, acrescentando que há “30 bombeiros envolvidos nestas formações”.
“Afeiçoei-me a eles”
Um deles é Luís Ventura, bombeiro de 1.ª e responsável pelos cadetes. “Entrei para a fanfarra em 1982, jurei bandeira em 1985, e já tenho um filho bombeiro e outro a caminhar para ser bombeiro”, diz ele. Luís Ventura diz gostar de “lidar com os miúdos. Também faço parte da fanfarra e lido com os miúdos há perto de 30 anos. Quando terminaram as manobras, era uma lacuna eles não ficarem com ninguém, porque eu afeiçoei-me a eles e eles a mim, e eu, por proposta do 2.º comandante, continuei”. A nível curricular, Luís Ventura explica que “temos várias actividades para os preparar para, no futuro, serem bombeiros. Nomeadamente na área do pré-hospitalar, trabalhar com extintores, combate a incêndios urbanos num contentor, escada de ganchos, 'slide', descidas com o descensor em oito, busca e salvamento, topografia. Fizemos 'pedipapers' com cartas topográficas, para eles se habituarem à nossa dinâmica de bombeiro. Eles gostam de tudo o que seja actividades fora da sala de aulas, o que eu compreendo, depois de uma semana na escola.
“Aprendemos muito”
Os infantes têm como responsável Bruna Sousa. A bombeira de 2.ª está nos bombeiros há perto de 13 anos e é profissional há dois. Segundo Bruna Sousa, os infantes “são jovens curiosos, com muita energia, e é muito giro trabalhar com eles. Nós ensinamos, mas também aprendemos muito com eles”.
A bombeira louva a ideia do 2.º comandante, afirmando que “é uma nova dinâmica para o corpo de bombeiros”, que tem como “principal objectivo que eles cheguem a bombeiros, mas fazemos tudo para que venham a ser seres humanos mais responsáveis, e jovens mais preparados e capazes”.
Criticas à legislação
Os Bombeiros Voluntários das Caldas da Rainha podem “contar com 15 novos bombeiros para Maio e já temos 18 inscrições para a nova escola de recruta em Fevereiro”, afirma o comandante José António Silva.
No entanto, segundo o responsável, “fardar estes jovens não é barato e é uma dificuldade num momento em que o próprio Pais atravessa dificuldades e a população das Caldas da Rainha não tem a mesma disponibilidade para apoiar os seus bombeiros. A Direcção luta com muitas dificuldades, mas, se não houver uma aposta em potencial humano, nós corremos o risco de que aconteça aqui aquilo que se verifica noutras áreas do País. É com muita tristeza minha que, este ano, cheguei a verificar que houve incêndios que estiveram a decorrer durante 20 horas, com 10, 15 bombeiros, porque não havia mais naquela zona. E nós não queremos que isso aconteça no nosso distrito”.
A insatisfação do comandante vai mais longe e ele critica a actual legislação.
“Este comando não aceita de forma alguma as alterações que houve na legislação. Não aceitamos que os incentivos para se ser bombeiro sejam cada vez mais prejudicados”. De uma forma irónica, José António Silva descreve: “Até há pouco tempo, por cada cinco anos de bombeiro, nós somávamos um ano de desconto em segurança social. Agora, como temos menos bombeiros, passamos a sete anos de bombeiro para somar um ano de desconto para a segurança social. É um excelente incentivo!... Por outro lado, também é um excelente incentivo dizer a um bombeiro que ele tem incentivos escolares no ensino superior quando tiver dois anos de função. Como um bombeiro só pode sê-lo aos 18 anos, e nessa idade já está na universidade, quer dizer que só passa a ter incentivos escolares quando andar no terceiro ano. Por outro lado, os nossos jovens, que só podem ser bombeiros aos 18 anos, não podem fazer formação em contexto operacional antes. Eu tenho uma escola de estagiários que vão jurar bandeira, e só vão poder fazer formação para apagar incêndios na próxima época de incêndios florestais. Porque se torcem um pé num incêndio antes dos 18 anos, o seguro não paga. Eu pergunto: um miúdo com 16 anos pode tirar a carta de caçador e andar com a arma às costas, atrás dos coelhos, e sujeito a pregar um tiro em quem lhe aparecer à frente. Para isso, já pode ser responsabilizado. Será que está tudo bem nos bombeiros? Será que esta legislação a nível nacional é a mais adequada?”.
Andreia Mendes, cadete, 16 anos: É o que eu quero para mim
“Gosto muito de ajudar as pessoas. É uma instituição muito solidária e acolhedora. É espectacular! O trabalho dos bombeiros é muito gratificante e é o que eu quero para mim. Consegui trazer a minha mãe para os bombeiros, o que a incentivou a estudar, e hoje ser bombeira é a coisa que ela mais gosta”.
Tânia Barros, infante, 15 anos: São heróis
“Os bombeiros são para mim uns heróis. Eu gosto de estar nos bombeiros e, além do mais, é divertido”.
Hugo Faustino, infante, 15 anos: São uma família
“Os bombeiros são uma família e eu tenho neste corpo de bombeiros a minha mãe, o meu pai, a minha madrasta e o meu avô materno. Eu praticamente nasci nos bombeiros e os bombeiros souberam do meu nascimento mesmo antes do meu pai. Profissionalmente, gostava de ser tripulante de ambulância. Na escola de infantes, além da área da saúde, gostei do simulacro de incêndios urbanos e das manobras com escadas de ganchos”.
Joana Rocha, infante, 10 anos: Ganhei muitos amigos
“Já ganhei muitos amigos aqui. Gosto muito de vir aos bombeiros. Gostei de tudo, mas principalmente de subir as escadas e do socorrismo”.
Luis Faustino, infante, 12 anos: Servem para muitos fins
“Os bombeiros servem para muitos fins. Gostei muito de passar da auto-escada para a torre. Ainda não sei o que vou ser, mas ser bombeiro é uma hipótese”.
Patrícia Falacha, infante, 10 anos: Fiz muitos amigos
“Já fiz muitos amigos. Gosto de tudo, mas gostei muito de fazer mergulho”.
Bernardo Branco, 10 anos: Quero ser bombeiro
“O meu pai é bombeiro, falou-me desta escola e eu vim logo. Os bombeiros salvam pessoas e apagam fogo. Gostava de salvar pessoas. Gosto muito de socorrismo. Quero ser bombeiro”.
Fonte: Jornal Bombeiros de Portugal
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