quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A Formação dos Bombeiros

Estamos como se diz na gíria estudantil no período de defeso. As aulas acabaram, os exames foram feitos e agora são as candidaturas às universidades. Entretanto os estudantes vão a banhos!

Nós nos Bombeiros, também estamos no período do defeso formativo, mas ao contrário dos estudantes, os Bombeiros estão em plena actividade na defesa da floresta e no combate aos incêndios florestais, no apoio às populações atingidas, que mobiliza milhares de companheiros em todo o nosso Portugal.

E invariavelmente, por esta ou aquela razão, por este ou aquele jornal, vem á praça pública a formação dos bombeiros.

Mas, façamos justiça, em qualquer fórum que se fale de bombeiros, qualquer reunião onde estejam bombeiros, o tema Formação é "obrigatório".

Ouvimos os Bombeiros e os seus responsáveis operacionais e as queixas são mais que muitas. A Formação nunca é a suficiente e são sempre os outros a serem beneficiados com os cursos.

Lemos os Relatórios de entidades como a Escola Nacional de Bombeiros onde podemos verificar os milhares de formandos, as centenas de cursos e um sem número de horas de formação atribuídas aos Bombeiros.

Afinal onde anda tanta formação?

Diz um desses relatos sobre o desempenho da Escola Nacional de Bombeiros, que "a oferta formativa da ENB, dispersa-se por um conjunto diversificado e significativo de Cursos/Módulos, abrangendo as áreas da Emergência Pré- Hospitalar, Transporte de Doentes, Incêndios Florestais ( nos níveis de 1ª Intervenção de Chefe de Equipa e de Grupo), Urbanos e Industriais (nos níveis de 1ª Intervenção e de Chefe de Equipa), Matérias Perigosas, Condutor de Embarcação de Socorro, Nadador Salvador, Operador de Central, Condução Fora de Estrada e Salvamento e Desencarceramento (SD), entre muitos outros."

Mas o que ouvimos, de uma forma geral em todos os distritos, é que a falta de formação é um problema recorrente, apenas estando garantidos os cursos de TS e SD, dado tratar-se de formação externa e da responsabilidade dos formadores existentes em cada um dos Corpos de Bombeiros. E quanto à outra formação, vai havendo de acordo com mais ou menos candidaturas comunitárias para subsidiar aquela formação.

Por exemplo no distrito de Lisboa, comunicaram-nos no mês de Junho que apenas 2 formadores externos da ENB estavam credenciados para ministrar formação de Técnicas de Socorrismo aos 56 Corpos de Bombeiros existentes.

Como é possível? O que se passou para que num distrito onde abundam formadores, particularmente nesta área, se tenham de cancelar todos os cursos programados por falta de formadores?

Sem este curso, em conjunto com o de SD, estão em causa todas as escolas de formação de estagiários e logo inviabilizados os respectivos concursos de ingresso.

Mas também ao nível da progressão na carreira, a bagunça é de tal ordem que ninguém se entende.

O Despacho 21722 /2008, de 20 de Agosto, veio regulamentar os Cursos de Formação, Ingresso e Promoção do Bombeiro e aplica-se a C.B.'s não pertencentes a Municípios.

Como se sabe, existem um conjunto de cursos/módulos obrigatórios e outros opcionais, mas que são condição para que se possa progredir na carreira. Pois bem, a falta de capacidade de resposta da Escola Nacional de Bombeiros está a comprometer esses concursos de progressão, deixando os Bombeiros e os seus responsáveis "á beira de um ataque de nervos".

Como sempre, no meu entender, a razão nunca está só de um lado. Por isso é necessário, digo mesmo fundamental, que aproveitemos este período de defeso e parar para pensar.

Este período seria uma oportunidade para se fazer uma avaliação critica do sistema de formação e de tudo o que o mesmo implica e definir um plano que possa resolver no médio prazo as lacunas com que nos debatemos nesta área, fundamental para os nossos Bombeiros e para a dinâmica dos nossos Corpos de Bombeiros.

Seria importante que a tutela avançasse com uma auditoria independente à Escola Nacional de Bombeiros e a todo o sistema formativo, para se poder corrigir desvios e colocar definitivamente aquela instituição de formação ao serviço dos Bombeiros de Portugal.


Autor: António Carvalho

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